Quintais da Zona Rural: reservas de plantas úteis e reflexo da cultura local

Dissertação defendida recentemente por Célia Cristina Valero de Souza, estudante e agora mestre em Botânica pelo INPA evidenciou pontos importantes sobre a biodiversidade de plantas encontradas em quintais de moradores de três comunidade da RDS do Tupé, além de demonstrar que estes espaços podem revelar aspectos elucidativos sobre a história cultural local.

Célia Valero, integrante do Biotupé, foi orientada pela Dra. Veridiana Vizoni Scudeller, docente da UFAM e professora do programa de Botânica do INPA. Célia desenvolveu seu estudo em 54 quintais das comunidades do Julião e Agrovila, na RDS do Tupé e da comunidade do Caioé, localizada no entorno da RDS, no Parque Estadual do Rio Negro. Nestes quintais Célia estudou as plantas que aí são cultivadas ou mantidas pelos moradores e registrou 266 espécies. Deste total 45% são utilizadas para alimentação, 35% na medicina popular e 33% como ornamentais. Dentre as que são usadas para alimentação a maioria são de plantas frutíferas (63,3%). É importante ressaltar que os quintais ao abrigarem muitas plantas utilizadas na alimentação são peça chave na segurança alimentar das famílias.

Manga, caju e abacate são as mais utilizadas na alimentação. Como remédio as mais usadas são: andiroba, crajiru e a manga que também foi a mais importante entre as alimentícias.

A população de entrevistados foi em sua maioria mulheres (46) e a idade dos entrevistados variou de 15 a 68 anos. Estes moradores são em sua maioria amazonenses, com baixa escolaridade, 74% do total de entrevistados estão entre aqueles que nunca frequentaram a escola ou nunca terminaram o ensino fundamental.

O conhecimento sobre as plantas em grande parte ainda é passado oralmente dos pais e avós para os filhos e netos. Esta forma de transmissão é fundamental para a manutenção do conhecimento e cultura em populações com essas características.

Os próprios moradores consideram os quintais importantes, por propiciarem sombra, alimento, local de lazer e descanso.

Conclui-se, portanto, que o conhecimento tradicional e sua transmissão oral ainda são mecanismos importantes na vida dessas pessoas e também na manutenção da biodiversidade e seus usos.

Este trabalho foi aceito e, juntamente com outros quatro (04) trabalhos da equipe do Biotupé, será apresentado durante o 61º Congresso Brasileiro de Botânica a ser realizado de 5 a 10 de setembro, em Manaus.